terça-feira, 29 de março de 2011

RECANTOS DE LISBOA

I-PARTE
Ainda a Igreja das Chagas

Da antiga devoção dos mareantes

Já aqui postei algo sobre esta Igreja,mas volto, com alguns dados sobre a mesma pois julgo de algum interesse.


A história da Igreja das Chagas está intimamente ligada à antiga devoção dos homens do mar,nomeadamente os mareantes da carreira da Índia. A sua pré -história,por assim dizer,remonta à criação,em 1493,da Irmandade das Chagas de Cristo no Convento da Trindade de Lisboa,constituída exclusivamente por marítimos.O seu criador,Frei Diogo de Lisboa,ministro daquele convento,por discódia entre a Irmandade e os religiosos trinitários separou-se destes e pediu licença ao Papa Paulo III para a contrução de uma igreja e um hospital destinado ao pessoal das armadas.Concedida a licença papal, a confraria construiu a nova igreja,con a invocação das Chagas de Cristo,na ponta ocidental da antigo Pico de Belveder,no sítio depois denominado das Chagas,uma das colinas de Lisboa. A primeira missa foi ali celebrada em 30 de Novembro de 1542, em que a Confraria saiu da Igreja e Convento da Trindade,em pomposa procissão,para se instalar na nova morada.Na gravura acima colocada,de George Braunio,de finais do século XVI ,a igreja realça-se sobre a escarpa das Chagas, no miradouro aberto ao rio,de onde facilmente se identificava o alto campanário.
Campanário com o peixe, que nos indica o estado do tempo,conforme a sua posição.
Por disposição obrigatória,todos os que faziam a viagem para a India e o Brasil pagavam a chamada "peagem",diferenciada segundo a categoria profissional,ou patente,destinada à Irmandade das Chagas,que administrava os bens da Igreja. A par dessas contribuições previdenciaias, com o fim de assistir os próprios navegantes e os familiares,na doença e na morte,concorriam também para o enriquecimento da Igreja das Chagas "as esmolas que dão os fiéis à milagrosa imagem da Senhora com o titulo da Piedade".
Altar-Mor com a Imagem de Nossa Senhora da Piedade Segundo a tradição.a imagem de N.Senhora da Piedade terá sido trazida da Índia,onde foi feita, por encomenda do vice-rei D.Constantino de Bragança (1528.1579) e trazida por" um António Pedreira Mercador,natural de Lisboa",a bordo da nau Chagas. A Igreja das Chagas adquiriu um poder económico e simbólico considerável pelos seus privilégios,como o direito de paróquia e a sujeição directa à Basílica de S.João Latrão de Roma,com isenção do ordinário (previlégio confirmado pelo Papa Urbano VIII em 1623);isto,para além de se situar numa zona moderna da cidade, o Bairro Alto,onde se localizavam várias casas nobres.O afamado relógio das Chagas foi um signo exterior dessa riqueza. Não foi por acaso que D.Francisco Manuel de Melo escolheu,no seu livro Os Relógios Falantes (1654),aquele relógio, O relógio que infelizmente não trabalha simbolizando o "relógio da cidade",no diálogo com o "relógio da aldeia",de Belas.Existiriam em Lisboa,em meados de seiscentos,outros dois relógios de campanário:o da Sé e o do Paço.O relógio é que não gozava de grande reputação popular,pelo que se entende dum antigo ditado lisboeta:"Em mulher de Alfama, homem do mar,relógio das Chagas...não há que fiar".Foi na igreja das Chagas que o Padre António Vieira leu o seu Sermão de Santo António,em 14 de Setembro de 1642,na véspera da reunião das Cortes,em que apelou a todos para que participassem no esforço de guerra de independência contra Castela:a nobreza e o clero estavam isentos de impostos,pagos apenas pelos comerciantes e o povo. A igreja não resistiu ao terramoto de 1 de Novembro de 1755.Porém,de acordo com João Baptista de Castro,apesar de se terem perdido os ornamentos e a "maior parte da sua prata" foi possivel ao páraco resgatar dos escombros da capela -mor" as sagradas Pixides,com o Sacramento,posto que dentro da Sacrário,e as venerandas imagens da Senhora da Piedade,do Senhor Morto, de São João Evangelista e Santa Madalena, que todas escaparam ao incêndio".

tem continuação-fotos de A.R.Filipe -Texto Bolhetim Junta Freguesia S.Paulo

1 comentário:

  1. Caro Adriano Filipe,
    Li com muito interesse este seu post, onde cheguei ao procurar informação sobre o culto lisboeta a Nossa Senhora da Piedade das Chagas de Cristo. Tenho uma gravura ou registo de Nossa Senhora da Piedade que só agora, ao publicá-la no blogue, soube por um amigo lisboeta que comentou o post, tratar-se de N. S. da Piedade das Chagas de Cristo.
    Como acho muito completa e relevante a informação que aqui disponibiliza, acrescentarei ao blogue um link para este seu post. Vejo que tem outros sobre o mesmo assunto, mas como não usa etiquetas, ainda não consegui lá chegar...
    Cumprimentos
    Maria Andrade

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