terça-feira, 27 de julho de 2010

CANTINHOS DE LISBOA V I

CONTINUAÇÃO:
FADISTA COMO A SEVERA NUNCA O FADO CONHECEU
Acrescente-se,num parêntese,que,no tempo dos amores com o conde de Vimioso,quis este fidalgo afastá-la um tanto da boémia que lhe consumia a saúde.Assim, cedeu-lhe uma casa na Bemposta (freguesia da Pena) e, noutra ocasião,uma habitação da Rua da Amendoeira (muito perto do Capelão). A fadista terá mesmo permanecido um tempo em casa do conde,no seu palácio que ainda se mantém no Campo Grande, esquinando para a Alameda das Linhas de Torres. No entanto,repete-se ,foi na Rua do Capelão que ganhou fama para sempre como cantadeira e autora de letras de fados.
O VIMIOSO

Apesar dos seus dotes,considerados extraordinários,talvez a Severa não tivesse entrado tão difinitivamente na lenda se não fossem os seus amores com o conde de Vimioso. Este fidalgo,
D. Francisco de Paula de Portugal e Castro,de seu nome,era homem dado aos toiros e a uma certa vida boémia.É referido por autores da especialidade como dos melhores cavaleiros tauromáquicos do seu tempo.
Deve-se ter-lhe chegado aos ouvidos a paixão que uma certa fadista da Mouraria tinha pela tauramaquia e a forma como o tinha transformado no seu ídolo, a ponto de ser capaz de descrever,minuciosamente ,toda uma lide. Não resistiu a ir visitá-la.E a paixão nasceu.

UMA BELEZA

As descrições da Severa não coincidem. São, porém, unânimes em a considerar como mulher muito formosa ,esbelta,dona de uns olhos que "tinham lume". Júlio Sousa Costa diz que ela, aos 18 anos , "era alta,delgada mas não magra,seio opulento,pele muito branca,olhos pretos,bastos cabelos negros,sobrancelhas carregadas, boca pequena, muito vermelha, belos dentes, cintura fina e pé pequeno". Tanto terá bastado para que o conde se tivesse aproximado e desse início a uma aventura galante que a Literatura e o teatro transformaram num dos maiores romances da Lisboa do século XIX.

MAU GÉNIO

A ligação entre a Severa e o Vimioso (nome que,por respeito para com os descendentes do fidalgo,Júlio Dantas omitiu, substituindo-o pelo de "Marialva"),não foi tão longa quanto os romances dão a entender.Terá durado uns dois anos e poderá ter sido interrompida mais por culpa da Severa . Na verdade rezam as crónicas que, para além da voz maviosa, do talento inato para compor letras e da formosura fisíca, possuía a fadista um génio bem mau de aturar e uma tendência para a ralé mais ordinária que era possivel imaginar.Qualquer contrariedade, por mais leve,l he despertava as iras , que se traduziam geralmente numa "cena" do mais canalha, na qual os insultos seriam o menor dos males. Alguns cronistas da Mouraria descrevem cenas de " faca na liga" e de pancadaria em que a fadista, talvez ensinada pelo arrebatado génio da sua barbuda mãe, levava a melhor e punha em fuga até homens que a queriam dominar. Não admira que o fidalgo, habituado a outras, maneiras por muito boémio que fosse, se deixasse a certa altura de idas ao Capelão.

UM LIGEIRO REPARO e a titulo de INFORMAÇÃO:

Mesmo de fronte da casa aonde nasceu a Severa, nasceu um dos fadistas mais castiços, popular e também boémio: O FERNANDO MAURICIO conforme mostra a placa .

irei deixar por uns tempos a MOURARIA.
Brevemente postarei assunto relacionado com o portal da igreja da Conceição Velha, na Rua da Alfândega em Lisboa.

fotos de A.R.Filipe

segunda-feira, 5 de julho de 2010

CANTINHOS DE LISBOA V

EX-LIBRIS DO FADO E DE UM BAIRRO

FADISTA COMO A SEVERA NUNCA O FADO CONHECEU
Ao falar-se do Socorro,é obrigatória uma permonorizada referência ao "ex-libris" da freguesia, a Rua do Capelão, em pleno coração da Mouraria. Trata-se de estreita nesga ligada para sempre ao fado e à intérprete que entrou na lenda: a Severa.Ali morou ela e ali a foi buscar a morte quando contava apenas 26 anos.
Na verdade , esta Maria Severa Onofriana,figura real de fadista e boémia,foi decididamente absorvida pelo mito, a tal ponto que se torna hoje extremamente difícil traçar a sua biografia sem tropeçar a cada passo naquilo que sobre ela se escreveu e fantasiou.O escritor Júlio Dantas transformou-a em personagem de romance e em protagonista de peça teatral.O artista Leitão de Barros levou-a a ser heroína de filme.
Outros autores foram acrescentando uns pontos aos contos que a tradição deixara.
De qualquer forma, parece hoje assente que a Severa nasceu na freguesia dos Anjos (vizinha desta do Socorro) em 26 de Junho de 1820 e lá foi baptizada.Depois disso,teve grande número de moradas em Lisboa, dependendo as mudanças primeiro da vida de sua mãe - e depois dos amantes que ela própria foi tendo.
Assim, há noticia de ter a futura fadista vivido em criança na Graça. Parece certo também que morou com a mãe na então Rua da Madragoa ( hoje Rua Vivente Borga, na freguesia de Santos -o- Velho), onde a progenitora tinha uma taberna e onde a então muito jovem intérprete terá começado a bater o fado.Alguns autores chegaram mesmo a apontar a Madragoa como berço da Severa,tese que hoje está afastada: viveu lá mas não nasceu lá.
A mãe, uma tal Ana Gertrudes, tinha por alcunha "a Barbuda", devido aos ornamentos capilares que a sua face exibia.Correu seca -e -meca. A dada altura, já depois da Madragoa,foi fazer recados aos presos e carcereiros da então cadeia do Limoeiro (onde ,fica hoje o Centro de Estudos Judiciários). Assim, mãe e filha assentaram arraiais no ainda existente Pátio do Carrasco, na freguesia de Santiago.
Do pai pouco se sabe,tendo no entanto a fadista herdado dele ao menos o nome : chamava-se Severo.
Mais tarde,a Severa morou ainda na Travessa do Poço da Cidade, no Bairro Alto (freguesia da Encarnação). O escritor Luís Augusto Palmeirim fala numa das suas obras do seu encontro com a Severa, chamando-lhe "grande notabilidade do Bairro Alto".
A morada célebre e que ficou para a história foi,no entanto, a Rua do Capelão número 36.

Rua do Capelão

Não foi, contudo,a única casa da fadista nesta freguesia do Socorro : viveu para aí uns seis meses na Rua do Terreirinho,quando teve por amante um ourives ali domiciliado.

fotos de A.R.Filipe

Continua.....