sexta-feira, 20 de julho de 2012

Cuca Roseta "Quem És Tu Afinal"

O FADO MOROU NA BICA













Fotos de Adriano R.Filipe

segunda-feira, 2 de julho de 2012

AS OBRAS NO MEU BAIRRO

E  ALGUMAS DAS MEMÓRIAS  VIVIDAS NAS PEDRAS NEGRAS  DA RUA!

As pedras negras que pisei ao longo de algumas  décadas.
Enquanto criança a caminho da escola,subindo e descendo a calçada, as escadinhas as travessas por onde brinquei; ao eixo,à macaca, ao sr.reizinho,ao páu queimado,à cabra cega, etc...etc...,joguei á bola,toda a Travessa do Cabral era nossa,desde da porta do antigo forno com o nº16,mais tarde seria um balneário, até à linha do elevador.
Grandes jogatanas se fizeram,presenciadas à porta da taberna-carvoaria do
 Sr.Guilherme,pelos mais crescidos, aquando de vez, lá,a bola ia parar à janela da tia Mariana "do chouriço" avó do malogrado Victor Hugo,falecido na guerra do Ultramar,
que morava por cima da merceeiria do Sr.Custódio e últimamente do Sr.António, que ainda está entre nós.
Desci em carros de rodizios ou em tábuas molhadas, em corridas, como se de grandes competições se tratassem,pelas pedras negras,polidas e gastas pelo tempo.
Na época da volta a Portugal em bicicleta, era ver-mo-nos "os putos"com o arco e gancheta, em corridas de imitação,como de ciclistas  se trata-se,eramos os"Alves Barbosas e Joaquins Agostinhos",os camisolas amarelas.Nas pedras da minha rua, aonde fazia-mos três covas e jogámos ao berlinde e ao pião,e as chamadas "porrias" entre os grupos de miúdos dos bairros vizinhos, as pedras da minha rua ,se falassem diziam quantas pedradas os vidros quebravam e quantas cabeças partidas elas fizeram, ao serem arremeçadas de uns para os outros,parecia-mos uns  pequenos"indios."
Pelas pedras da minha rua,vi movimentação estranha de pessoas que colavam um  cartaz, com a fotografia de um homem fardado,na esquina da minha travessa,junto ao elevador, perto da janela do Sr.Brito pai de um amigo de infância o Moisês.Mais tarde já rapazote, vim a saber que aquela imagem era a do General Humberto Delgado,
quando candidato à Presidência da República,oposicionista à ditadura Salazarista corria o ano de 1958.Por estas mesmas pedras passaram varinas apreguando o pescado,"hóó... freguesa desça a baixo",a mulher da fava rica,o ardina que corria gritando, é noticia, de última hora... mataram o Kennedy ,isto passava-se o ano de 1963/11/22.E pelo carnaval as pedras das ruas do meu bairro ficavam atapetadas de confetes,serpintinas,
feijão e farinha... ai carnaval das trupes ou cégadas das boas e más brincadeiras.E o funileiro que a uma esquina concertava tachos e panelas,soldando os fundos ou pondo "gatos, pedaços de arame",em loiça quebrada.E pelos santos populares era o arraial de coreto e cavalinho e por essas pedras passava a marcha do bairro, tradição que ainda hoje se realiza, uma das poucas que se mantem.Recordo também as fogueiras que se faziam,com a madeira das caixas ,que se trazia da ribeira,e aonde a miúdagem saltava por cima das labaredas.Por estas pedras negras, passava também quem vendia o belo caracol cozido e os marmelos ou peras assados, que o foram no forno de lenha da padaria  do "massa bruta".Apesar das muitas contingências existentes na época,posso dizer que fui feliz. 
Hoje, ao fim destas décadas continuo a pisá-las,mas com o tempo contado para elas, pois em breve todo o bairro irá ter uma transformação e para melhor no meu entender.
Outras melhorias vão ser introduzidas para os residentes do bairro e para o forasteiros que o visitam, melhores condições e de segurança serão criadas, pois o piso com novas  pedras, outros lancis ,melhores degraus, com melhor acabamento, dando por certo, outro visual,diferente do  antigo e irregular piso, que se apresentava já em muito mau estado,provocando por vezes algumas quedas  aos mais idosos.
A calçada irregular de pedra basáltica negra e de outras cores, gastas pelo tempo irão desaparecer,vamos ter um bairro com mais verde,com outra iluminação,com mais desciplina no trânsito automóvel,enfim espero que a Bica se torne ainda mais linda,não obstante das opiniões sempre discordantes e que, nada mais sabem fazer que dizer mal,pois é decerto a única maneira que sabem participar,em sociedade.
O nosso ex-libris também foi de saída para uma reparação, pois é sempre conveniente ter uma manutenção bem feita,que só nas oficinas se pode dar.É de salientar que na passada semana o mesmo comemorou os 120 anos,atravessando durante estes anos o bairro de cima a baixo.
Vamos voltar, a vê-lo de amarelo pois é a sua cor natural,espero que as pinturas arabescas e conspurcantes dos últimos tempos não voltem a cobrir de negro,dando um péssimo aspecto, a quem por ele passa,denotando-se uma grande falta de civismo.
Outros meninos, que como eu já fui, vão conhecer outro bairro,com outras pedras novas,por onde novas histórias ficaram gravadas por mais décadas,aonde viver será também brincar, correr e saltar,quiçá com mais segurança e liberdade,sabendo sorrir para quem passa,porque sorrir é sinónimo de felicidade,é preciso que sejamos todos felizes.