segunda-feira, 5 de julho de 2010

CANTINHOS DE LISBOA V

EX-LIBRIS DO FADO E DE UM BAIRRO

FADISTA COMO A SEVERA NUNCA O FADO CONHECEU
Ao falar-se do Socorro,é obrigatória uma permonorizada referência ao "ex-libris" da freguesia, a Rua do Capelão, em pleno coração da Mouraria. Trata-se de estreita nesga ligada para sempre ao fado e à intérprete que entrou na lenda: a Severa.Ali morou ela e ali a foi buscar a morte quando contava apenas 26 anos.
Na verdade , esta Maria Severa Onofriana,figura real de fadista e boémia,foi decididamente absorvida pelo mito, a tal ponto que se torna hoje extremamente difícil traçar a sua biografia sem tropeçar a cada passo naquilo que sobre ela se escreveu e fantasiou.O escritor Júlio Dantas transformou-a em personagem de romance e em protagonista de peça teatral.O artista Leitão de Barros levou-a a ser heroína de filme.
Outros autores foram acrescentando uns pontos aos contos que a tradição deixara.
De qualquer forma, parece hoje assente que a Severa nasceu na freguesia dos Anjos (vizinha desta do Socorro) em 26 de Junho de 1820 e lá foi baptizada.Depois disso,teve grande número de moradas em Lisboa, dependendo as mudanças primeiro da vida de sua mãe - e depois dos amantes que ela própria foi tendo.
Assim, há noticia de ter a futura fadista vivido em criança na Graça. Parece certo também que morou com a mãe na então Rua da Madragoa ( hoje Rua Vivente Borga, na freguesia de Santos -o- Velho), onde a progenitora tinha uma taberna e onde a então muito jovem intérprete terá começado a bater o fado.Alguns autores chegaram mesmo a apontar a Madragoa como berço da Severa,tese que hoje está afastada: viveu lá mas não nasceu lá.
A mãe, uma tal Ana Gertrudes, tinha por alcunha "a Barbuda", devido aos ornamentos capilares que a sua face exibia.Correu seca -e -meca. A dada altura, já depois da Madragoa,foi fazer recados aos presos e carcereiros da então cadeia do Limoeiro (onde ,fica hoje o Centro de Estudos Judiciários). Assim, mãe e filha assentaram arraiais no ainda existente Pátio do Carrasco, na freguesia de Santiago.
Do pai pouco se sabe,tendo no entanto a fadista herdado dele ao menos o nome : chamava-se Severo.
Mais tarde,a Severa morou ainda na Travessa do Poço da Cidade, no Bairro Alto (freguesia da Encarnação). O escritor Luís Augusto Palmeirim fala numa das suas obras do seu encontro com a Severa, chamando-lhe "grande notabilidade do Bairro Alto".
A morada célebre e que ficou para a história foi,no entanto, a Rua do Capelão número 36.

Rua do Capelão

Não foi, contudo,a única casa da fadista nesta freguesia do Socorro : viveu para aí uns seis meses na Rua do Terreirinho,quando teve por amante um ourives ali domiciliado.

fotos de A.R.Filipe

Continua.....

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