SOCORRO-MOURARIA :
Restos de um antigo arrabalde fechado
Socorro lembra nas ruas
velha presença dos Mouros
Conquistada Lisboa,os mouros passaram a habitar num subúrbio do Castelo,até à expulsão,determinada por D.Manuel I.
A freguesia do Socorro,a autarquia da cidade que é habitual identificar com a Mouraria,ou pelo menos,com a sua parte mais popular.
Poderão os mais rigorosos acusar de tendências simplistas aqueles que, sem cuidarem de grandes delongas,chamam genericamente "Mouraria" a toda a zona da cidade que sai da Baixa pombalina e se aventura pelas primeiras subidas do flanco do Castelo.Haverá por certo definições mais minuciosas e científicas. Mas o certo é que a noção percorreu gerações e tem a razão de ser:conquistada que foi Lisboa(entendida então pelo que ficava dentro das muralhas e pelas cercanias imediatas) pelas tropas de Afonso Henriques e pelos cruzados,para algum lado haviam de ir os vencidos.E o primeiro rei resolveu a questão,determinando que os mouros passassem a habitar um subúrbio a noroeste do castelo.Nascia,assim, obviamente dos "mouros", a Mouraria .
Bem pode dizer-se que ficava então uma cidade dentro de outra.Ali,podiam os habitantes professar livremente a sua religião e manter os seus costumes:as hortas.os lagares,os trabalhos de olaria,os banhos,os cemitérios próprios... As duas comunidades,cristã e moura,podiam livremente comercializar,mercadejar entre si.Mas as relações ficavam-se pela coexistência mais ou menos pacífica: ao anoitecer,a Mouraria fechava as suas portas e, a partir desse momento,todo o contacto era rigorosamente proibido.
Rigor da separação
Conforme as épocas,assim o rigor da separação entre as duas comunidades aumentava ou diminuía de intensidade. Em dada altura (mais ao menos pelo século XIV),qualquer mulher cristã que entrasse na Mouraria arriscava-se a ser enforcada. D.Pedro I decretou que um mouro que circulasse pela Lisboa cristã depois do Sol posto fosse açoitado.
Claro que uma coisa era a teoria e outra a prática: a proximidade das moradas,a natural curiosidade de um e outro campo,o desejo de copiar o que fosse mais prático,a indesmentível apetência pelo "fruto proibido",fizeram com que alguma aproximação se desse, chegando mesmo a haver ligações,obviamente disfarçadas,entre cristãos e mouras ou mouros com cristãs.
D.Manuel I quis por termo a este estado de coisas, expulsando os mouros,confiscando-lhes os bens - e convidando,afinal, a uma mescla maior, embora mais hipócrita,porque,entre maometanos como judeus,algumas "conversões"houve que foram feitas com sentido prático e não por convicções íntimas.
De qualquer forma, com a expulsão oficial dos mouros,a população cristã invadiu o arrabalde e espalhou pelas ruas os símbolos da religião cristã. A beira da porta da Mouraria (porta aberta na Cerca Fernandina e que correspondia,mais ao menos,ao antigo Arco do Marquês do Alegrete,de que muitos lisboetas ainda se lembram), nasceu,por exemplo, o culto a S.Sebastião, advogado contra as pestes, e logo a seguir a devoção pela Senhora da Saúde,que ainda lá está - embora não pertença já à freguesia do Socorro que agora nos ocupa.
Limites e prolongamentos
Também já se encontraram reminiscências mouras na vizinhas freguesias de São Lourenço e São Cristóvão,visíveis até no primitivo nome do "chão" onde veio a edificar-se a igreja em que o orago é o primeiro destes santos: "Alcamim". Mas Mouraria propriamente dita é, sem dúvida,a zona citadina que corresponde sensivelmente á freguesia do Socorro e parte de Santa Justa ,
mesmo até uma parte pequena da actual Graça. Tal não significa que as zonas de fixação moura não fossem muito para além destes limites: basta lembrar as hortas (modo de cultura muito próprio dos mouros ) que se estenderam até Benfica e aos actuais arredores.
Aristocrática e popular
Na Mouraria, ainda é possivel distinguir entre uma parte alta - "aristocrática" ,como muito bem lhe chamou mestre Norberto Araújo - ,situada à volta da antiga mesquita, transformada há muito em igreja católica,dita do Coléginho, e uma parte "popular", ligada `zona do Capelão,Amendoeira,Guia...
Perda de característicaS
Do que já foi dito, depreende-se facilmente que, expulsos os mouros em 1496,no já referido reinado de D.Manuel I, foram-se perdendo as características da Mouraria autêntica. Tornou-se. pois, a freguesia um centro habitacional popular, onde as ruas estreitas e formando um arremedo de labirinto, pareciam convidar a um certo grau de marginalidade.
A estúrdia e a má fama
Assim, em termos mais recente e por causa de certa fama de estúrdia, por via de lá residirem muitos fadistas - dos quais a Severa é o exemplo maior - , de meia dúzia de lendas e outros tantos factores verídicos sobre facadas e má vida,da abertura de centros canalhas de batota e vinhaça,onde se acoitavam a ladroagem e a prostituição,passou, no século XIX e princípios do século XX, a Mouraria a ser conotada principalmente com um bairro de mã fama,do qual fugiam as pessoas de bem.
Tudo lá vái...
foto de A.Filipe
Boa tarde Sr.Adriano,
ResponderEliminarBonito trabalho sobre a Mouraria.
É um bairro que conheço desde criança, por lá terem vivido uns tios, na Rua das Olarias, até falecerem. Quando vinhamos a Lisboa ficavamos sempre em casa deles. Guardo muitas boas recordações desses tempos, dos sons, dos cheiros, enfim o que torna típico esses bairros, tais como Alfama, Bairro Alto, etc.
Fico a aguardar o seu próximo Cantinho de Lisboa.
Cunprimentos
Paula Santa Cruz
Olá boa tarde para si também.
ResponderEliminarAgradeço desde já a visita,ainda bem que gostou.Logo que veio este Sol meio envergolhado,aproveitei para fazer o "boneco".
Pois eu também tive tios que moraram na rua do Bemformoso.Gosto também da Mouraria.Irei continuar,assim o tempo me ajude.
Tudo de bom,fique bem
Obrigado
Até logo