Para dar inicio a esta postagem dos Cantinhos de Lisboa, achei por bem começar por esta casa, um dos mais nobres edifícios da cidade.
Sendo sempre ocasião azada para falar de uma casa nobre da cidade,mais oportuno será ainda
num tempo em que se irá comemorar o centenário da proclamação da República.
Vamos assim, de algum modo, espreitar a casa onde a vereação resolve uma parte das nossas vidas.
Ora, se alguém duvidasse de que Lisboa,marcada talvez por estranho fatalismo,é cidade
propensa a incêndios,bastaria lembrar que os próprios Paços do Concelho-ou seja,a verdadeira casa do povo da cidade,sede do seu poder administrativo, "a Câmara",como nós dizemos abreviadamente-ardeu por duas vezes em pouco mais de um século.Na verdade,o nobre edifício que se ergue na Praça do Município só existe porque o seu antecessor foi destruído, em 19 de Novembro de 1863,tendo ele próprio sofrido a calamidade de um fogo, que o destruíu completamente,estando situado num prédio pombalino entre a Rua do Arsenal e Rua do Ouro e que dava para a Praça do Municipio repartindo o espaço com outros serviços,e em 7 de Novembro de 1996 um outro incêndio.
Quando o sinistro (que durou nada menos de oito dias e foi dos maiores de sempre em Lisboa)consumiu a Câmara completamente, logo se pensou na reedificação.
Foi encarregado da obra o engenheiro Pedro Pezarat,que adoeceu pouco depois,facto que levou à sua substituição,mas apenas de forma interina,por Domingos Parente da Silva.E este não gozou sempre das facilidades de que precisaria para andar depressa.Assim, as obras começaram em 29 de Outubro de 1866 mas só terminaram em 1875.
O incêndio de 1996 destruiu algum recheio valioso,mas não obrigou a alterar a feição do belo edifício.Lá temos os sete pórticos,a excelente varanda adiantada no corpo central e, no cimo,um excelente frontão triangular,no qual são visíveis as armas da cidade e as figuras alegóricas da Liberdade e do Amor da Pátria,esculpidas por Calmels.Esse frontão apoia-se sobre quatro grupos de colunas.
Frontão
Lá dentro,praticamente tudo tem interesse:para começar a própria escadaria, de elegante traçado, que conduz,em dois lanços,ao salão nobre.
Neste,depois de olhar a porta principal que é obra de o entalhador Leandro Braga,podem ser admirados as pinturas:vinte e quatro medalhões,pintados por Malhoa e Neves Júnior, representam outras tantas figuras nacionais importantes;quatro grandes quadros são retratos de Fernandes Tomás,Alexandre Herculano,Mousinho da Silveira e José Estêvão.Muitas outras salas são dignas de registo e muitas são também as pinturas notáveis.Não recorrendo a exaustivas listagens, citem-se ao menos o retrato de José Gregório Rosa Araújo,antigo presidente da Câmara e principal responsável pela Avenida da Liberdade,e o célebre quadro de Miguel Lupi,representando o Marquês de Pombal presidindo a reedificação de Lisboa.Uma visita guiada será a melhor forma de conhecer razoavelmente esta bela Casa do Povo de Lisboa.
OUTRAS DESCRIÇÕES DE INTERESSE: -
SERVIÇO FÚNEBRE
O salão nobre dos Paços do Concelho da Câmara Municipal de Lisboa serve,evidentemente,para solenidades, como por exemplo a recepção a chefes de Estado estrangeiros ou a convidados especiais,para entrega de prémios ou actos afins.Já serviu,no entanto,também para velórios.Em Outubro de 1910,o médico Miguel Bombarda foi morto por um doente na váspera da proclamação da República e o almirante Cândido dos Reis suícidou-se por julgar perdido o movimento.Ambos foram velados em, conjunto,no salão nobre da Câmara.O mesmo sucedeu em 1943,quando o Engº.Duarte Pacheco,que era ao tempo ministro das Obras Públicas e tinha sido presidente da Câmara,morreu num acidente rodoviário.O funeral nacional saiu dos Paços do Concelho .
A VARANDA E A REPÚBLICA
Na varanda central,virada à Praça do Município,foi, em 5 de Outubro de 1910,proclamada a República.Ali o dr. Eusébio Leão, rodeado por muitos vultos republicanos,entre os quais José Relvas,anunciou ao povo de Lisboa que um novo regime vigorava em Portugal. Anunciou também a constituição do Governo provisório,presidido por Teófilo Braga. Este facto está devidamente assinalado numa lápide,colocada em Outubro de 1911-portanto,um ano depois-e que se encontra no primeiro patamar da escadaria nobre.
A CASA DE SANTO ANTÓNIO
Antes de vir "morar"junto do Terreiro do Paço,o Senado da Câmara esteve durante séculos ligado ao local onde hoje temos a igreja de Santo António, edificada como se sabe no sítio onde o taumaturgo nasceu.Não se trata,porém,de quaquer substituição:a igreja e a Casa da Câmara chegaram a coexistir,funcionando esta última em casas contiguas ao templo.Ao longo de cerca de 400 anos, ali funcionou a sede, embora com intervalos motivados por obras ou outras causas (por exemplo,uma peste que assolasse aquela zona).
OUTRAS CASAS
Episodicamente,funcionou a Câmara no Campo Grande,no sítio onde está a igreja dos Santos Reis.No século XVIII,esteve no Rossio,ao lado do palácio da Inquisição;depois foi para o palácio Almada(normalmente chamado palácio da Independência);e continou ligado à familia Almada,ao passar para o pé da igreja da Madalena,num prédio da Travessa que tem exactamente o nome de Almada.Ocupou ainda um edifício próximo da Boavista,numa travessa que hoje se chama do Marquês de Sampaio.Só em 1770 se deslocaram os serviços para o já referido edifício pombalino junto ao Terreiro do Paço,que,como ficou dito,ardeu por completo.
fotos de : A.Filipe
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